PRELIMINARES
I. Sons. — 2. Particufas. — 3, Indefinidos e numeraes. — 4. Pronomes inter,
rogativos e pessoaes. — 5. Nomes, adjectivos e substantivos. — 6. Ver-
bos. — 7. Affixos. — 8. Orapoes.
I . Faltam ao ra-ixa hu-ni ^u-i, o idioma dos Caxinauas, os
sons representados por f, g, j, /, s, z.
b, ^, m, n, p pronunciain-se como em nossa lingua.
g foi com muito pouca felicidade escolhido para representar o
ih inglez em think; seguido de consoante, desta se distingue por
ligeira pausa, indicada por apostrophe : g' ; quando seguido de
vogal umas vezes distingue-se ciaramente, outras nao.
d inicial transforma-se geralmente em r Brando no meio do
vocabulo ; de r forte no meio do vocabulo so ha um exemplo :
a-rai : em outras linguas panas r e sempre Brando e nao existe d.
h aspirado, r forte, v permutam-se : antes de a predomina r, e
so va-ri, que tambem se diz ha-ri e ra-ri, pode come^ar por v ; h pre-
domina antes de / e o, e nem uma palavra come^a por vi ou o6 ; v
predomina antes de o ou u, e emitte-se sempre com mais for^a do que
estamos acostumados a ouvil-o.
h aspirado, r rolado e o tendem a desapparecer em palavras
compostas : assim diz-se ho hox-o, bo rox-o, bo vox-o, caBello
Branco, quando os elementos apenas estao justapostos ; mas diz-se
box caBello Branco, na composifao ; diz-se ti ho-ro, laBareda de
fogo, mas ti-o-ro, tx6-rd maracanagua^u (Ara severa), ave cujo Bico
ficou queimado quando rouBou o fogo ; muitos infixos vocalicos resul-
tam destas syncopes.
r forte transformado em r Brando encontra-se rarissimas vezes.
/ soa em geral como o nosso, mas e quasi imperceptivel quando
precede g, isto 6, o th inglez ; quando fx e suBstituido por ti pronun-
cia-se o i com muita rapidez e t soa com mais forfa ; nao se encontra
porem o t e it fortes indicados pelos missionarios castelhanos do
Ucayale, provavelmente devidos a vizinhan^a do quechua. Tao
pouco se encontra no caxinaua sora correspondente a cc, cq dos
missionarios, si esta graphia representa o guttural kechua.
12 Sons
X soa sempre como ch francez, sh inglez, sch allemao ; pode ser
precedido de t ; quando a x segue-se alguma consoante, della se
separa por ligeira pausa, marcada por apostrophe : x' ; precedendo
vogaes pode succeder o mesmo, mas nao se notou convenientemente.
fx~ch inglez ou castelhano.
As vogaes e ditongos a, a, di, du, du pronunciam-se como em
nossa lingua.
& e a impuro.
di pode transformar-se em e aberto ; di em e ; aa, mais rara-
mente, em 6 ou 6 : xdu, osso, ma-xo chifre, osso da cabe^a.
e e e nao come^am vocabulo ; encontra-se, porem, e-bo
mullier di-ho.
i Icm dois sons : urn, igual ao nosso, permula com e ; oulro.
palalal, com 6.
o aproxima-se do homographo allemao mais ou menos impuro,
cu I ranee/., u inglez cm but; o« missionarios castelhanos representam
por uc o som que Ihe corresponde.
(I soa aproximadamcnte como un, aucun em francez.
6, 6 usam-se indiffcrentemente com u e u.
Semi -vogaes sao }) e iv.
V inicial, alheio a nossa lingua (de Santo lacobo fizeram Sao
I iago, de Oyapok, lomando a primeira syllaba por artigo, fizeram
Japoc) foi evitado o mais possivel ; do mesmo modo foi evitado u>,
(jue quasi exclusivamente figura no meio das palavras, onde quasi
sempre e transiorma^ao de b : ambos os sons pedem ouvido inglez
acostumado a suas subtilezas.
j; precedido de i, w precedido de 6 ou u, sao ambos absorvi-
dos com a maior facilidade : rag-i-ya, com muitos, pronuncia-se
correntemente ra-ci-a ; de ra-to Wa fizeram ra-to-a.
A syllaba pode constar de simples vogal ; de consoante e
vogal ; de vogal e consoante ; de consoante, vogal ou ditongo e con-
soante quando csta for f , ff , x, tx. A separafao das syllabas termi-
nadas por estas fricalivas presta-se a duvidas. Encontrando go-o,
{,0-6 enfiar, nao se liesita em dividir 6-f6, 6-gd, que tern o mesmo
scntido : mas eomo dividir 6f '/a, que tern a mesma origem e signi-
ficafao '} Aqui o apostrophe representa uma elisao : determinar os
casos em que isto se da exigiria a analyse rigorosa de todas as desi-
nencias e de todos os suffixos. que nao poude ser feita a tempo.
Talvez conviesse juntar a estcs finaes de syllabas men, mas d,
e, t, 6, u reproduzem bcm os respcclivos sons ; m e n so apparecem
entre duas vogaes, tendo geralmenle por effeito desnasalisar a pri-
meira ; a nasal so reapparece dianle de consoante, onde m ou n sao
contraindicados.
Interjeifoes e conjunc^oes 13
Em nossa lingua fim, final, findar, commum, communicar ,
commungar reproduzem o phenomeno da desnasalisa^ao antes de
vogal, da renasalisa^ao antes de consoante.
A divisao das syllabas apresenta uma singular Idade : do-ro
pronunciando espa(^adamente B. e T. dizem do-do, isto e, r volta a
rer d, como si o vocabulo recome^asse ; do-o dizem do-Wo, ho-xa,
bdx*-xa. Ao contrario succedeu escrever mo-bo xua-a-xu-na em vez
nia-box' lOa-xu-na ; por causa disto no meio das palavras ha excesso
i\c 6, w, i, ^ : assim pi-a frecha foi a principio escripto pi-y^a.
O accento tonico recai sempre na ultima vogal, excepto si ha
ditongo, que vae accentuado na primeira letra. Nas linguas panas
do Madeira e do Ucayale o accento tonico prefere a penultima
syllaba ; mesmo no Jurua ao lado de l^a-xi-nau-d ouve-se ka-xi-ndu-a.
Os vocabulos terminam em vogal, pura ou nasalada, em g , tg,
x\ tx, como as syllabas ; nao haveria grande inconveniente em cha-
mar aflricadas as vogaes que acompanham estas fricativas : isto se
fara daqui por diante.
T. empregou I, 172, 182, 231, insistiu na occasiao, mas nao repetiu ; tal-
vez quizesse mostrar que sabia emittil-o. B. nao conseguiu ainda : em uma nota
encontro nosso lodo pronunciado doro.
B. nao concorda tambem com a pronuncia de va-ri ao lado de ha-ri e ra-ri.
Encontram-se aqui escriptas com b palavras em que os missionarios empre-
gam V ; ja na peninsula os dois p>ovos trocam bet).
A separagao das syllabas nasaladas p>ode ser mantida, mas a explica^ao
nao corresponde a maioria dos factos, como se vera adiante.
2. As partes do discurso mostram-se muito instaveis ; a cada
passo dao-se transgressoes de uma para outra categoria : palavras
como o ing. (( grave » que pode ser substantivo, adjectivo e verbo
sao a generalidade.
deAbreu, C. 1914. Ra-txa hu-ni-ku-i - Grammatica, Textos
e Vocabulario Caxinauas. Rio: Typographia Leuzinger.